SUICÍDIO X TRABALHO: VALE A PENA DAR A VIDA POR ELE?

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Martin Senn, ex-CEO da Zurich Seguros suicidou-se em 27 de maio de 2016, após 6 meses de seu desligamento da empresa. Em 2013, Pierre Wauthier que ocupava o cargo de diretor financeiro na mesma organização, também tirou sua própria vida.

Vale a pena dar a vida pelo trabalho?

Vale a pena ceder à pressão?

Wauthier antes de partir deixou uma carta afirmando que o ambiente de trabalho era insuportavelmente estressante, a empresa negou. Senn trabalhou por 10 anos na organização e falhou em uma importante negociação. A pressão o fez renunciar ao cargo em dezembro de 2015. Entrou em um quadro de depressão e cometeu suicídio.

Estes são dois exemplos de pessoas que entraram em estado de sofrimento por motivo de trabalho.

Quando conhecemos alguém as primeiras perguntas que nos fazem são:

Qual é o seu nome?

Em que você trabalha? Ou o que você faz?

Essas perguntas deixam claro que o trabalho é um dos fatores que contribuem para a constituição da nossa identidade, visto que escolhemos onde trabalhar e qual profissão exercer. O trabalho é uma fonte de reconhecimento e motivação. Empregar seus talentos no trabalho e produzir resultados que geram satisfação e orgulho é gratificante.

Trabalhar com o que gosta é uma dádiva que ainda poucos usufruem, porque reconhecer suas preferências, habilidades e competências e traçar planos para conquistar um emprego que lhe permita aplicar todo o seu potencial exige uma grande dose de autoconhecimento, coragem e atitude.

Agora, gostar do que se faz é relativamente mais tangível. Com a crise no país e com o crescente número de desempregados, a maioria das pessoas quer manter seus empregos, mesmo que estejam insatisfeitos. Gostar da atividade que realiza e dar novo sentido ao trabalho contribui muito para que os dias sejam mais leves e com mais emoções positivas.

No trabalho podemos:

  • Estabelecer vínculos com outras pessoas;
  • Exercer a cooperação e a solidariedade;
  • Adquirir e compartilhar conhecimentos;
  • Ter reconhecimento por toda a energia e dedicação dispensadas a ele;
  • Construir uma carreira sólida da qual podemos nos orgulhar.

Excessos não são bem-vindos em nenhuma área da vida, inclusive a paixão pelo trabalho deve ser de intensidade moderada. Quem erra na medida pode não ter recursos internos para lidar com possível perda ou fracasso no trabalho. As mudanças ambientais e estruturais nas empresas também podem afetar profundamente as condições psíquicas dos trabalhadores, onde baseados em seus resultados são gerados sonhos pessoais a serem conquistados como, por exemplo: comprar uma casa, trocar de carro, etc…

Como um tsunami o progresso e a tecnologia a partir da década de 90, degradaram as condições de trabalho, transformando ou extinguindo funções, estabelecendo metas a serem cumpridas individualmente (a responsabilidade não é mais do grupo), estimulando a concorrência entre colegas de trabalho, gerando casos de assédio moral e favorecendo o surgimento de patologias. Organizações que tiveram caso de suicídio de funcionários abafa o máximo que podem para preservar sua imagem e evitar problemas jurídicos.

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  O tema suicídio é visto como um tabu porque a morte para a grande maioria das pessoas é motivo de pesar e torna-se difícil aceitar que alguém tira a sua própria vida. A palavra suicídio tem origem latina e significa auto-homicídio, auto- eliminação. A morte é cercada por mistérios, as religiões têm diferentes formas de explica-la, assim como também já foi objeto de estudo de muitos pensadores desde a antiguidade.

É muito importante a ampliação da discussão sobre o suicídio como patologia laboral para que sejam revistas as condições do trabalho em nosso tempo e como prevenção. As pessoas que cometem suicídio por motivos de trabalho atualmente podem apresentar essas características:

  • Pessoas expostas ao estresse diário,
  • Ocupam cargos que exigem grande qualificação profissional e responsabilidade;
  • Escolhem o local de trabalho para cometer o suicídio;
  • Podem apresentar quadro de depressão;
  • Apresentam sentimento de fracasso e medo de perder o emprego;
  • Podem apresentar melhora repentina de um quadro de depressão grave para em seguida cometer o suicídio;
  • Podem apresentar quadro de bipolaridade;
  • Podem se despedir antes do ato.

A prevenção pode ser realizada:

Pelas empresas:

  • A revisão das condições de trabalho oferecidas pelas empresas. Vendo o trabalhador como pessoa que tem uma história de vida, que tem sentimentos e não como um número dispensável e substituível.
  • Promovendo o debate sobre o tema suicídio com a presença de profissionais da saúde dentro da empresa.
  • Oferecendo apoio psicológico e orientação de coach para os profissionais que serão desligados e necessitarão de suporte para recolocação no mercado de trabalho.

Pelo trabalhador:

  • Avaliar se a empresa está atendendo as suas necessidades como pessoa e profissionalmente (se não estiver é hora de buscar outro emprego, não espere adoecer);
  • Avaliar se em seu trabalho você tem mais emoções negativas do que positivas durante o expediente (se passa a maior parte do tempo irritado ou contrariado todos os dias é sinal de alerta);
  • Buscar ajuda profissional ao ter a percepção que há alterações constantes em seu comportamento.
  • Manter o otimismo e relacionamentos saudáveis com todas as pessoas.

“A vida é maravilhosa se não se tem medo dela”. 

Charlie Chaplin

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Não vale a pena dar a vida pelo trabalho!

O trabalho é apenas uma das várias áreas de nossas vidas. O desemprego ou o fracasso em uma negociação não é sentença de morte, não é o fim da linha. Aproveite a beleza do caminho e não se preocupe com o destino.

Este post tem 2 comentários

  1. Muito bom texto, Ágata! Adiciono que há um outro tipo de suicídio (e posso comentar com alguma propriedade): Pessoas que se dedicam tanto ao que fazem, que deixam sua própria saúde em segundo plano. Também em maio de 2016, minha esposa começou a reclamar de falta de ar. Indiquei que ela procurasse um médico.Nada! A justificativa era: “Não posso me ausentar do trabalho”. Em 29 do mesmo mês, ale faleceu aos 37 anos de idade. Valeu a pena tanta dedicação?

    1. Obrigada Rogerio Pelegrim por sua generosidade em compartilhar conosco sua experiência. Meus sentimentos. Em setembro do ano passado uma colega de profissão se suicidou. Realmente é necessário que paremos para pensar se estamos trabalhando para viver ou vivendo para trabalhar. A dedicação excessiva ao trabalho é prejudicial para saúde física e emocional.

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